Nº de Páginas: 240
Ano: 1999
Avaliação: 
A história principal acompanha o relacionamento de Bia e Virgilio. Ambos se conheceram em uma reunião de trabalho, em que foram convocados para ajudar um autor de telenovelas a construir sua narrativa sem equívocos históricos, tanto na trama quanto nos cenários. E a habilidade deles foi recrutada por ela ser uma jornalista especializada em turismo e ele um arquiteto estudado. De uma naturalidade surpreendente, um laço muito forte entre os dois personagens surge e uma nova historia começa dentro da historia. Para completar os enlaces, uma terceira narrativa surge em paralelo quando Bia descobre o diário de uma jovem do século 19 onde descreve as suas desventuras amorosas e que mexem diretamente com a leitora.Ana Maria Machado constrói uma rede de relacionamentos em diferentes épocas e situações, e tudo parece se misturar quando os dramas da novela encenada, os vividos no diário e os diários com seu namorado parecem se repetir aqui e ali. Confusões e intrigas que só o amor cria e resolve.
Quem me "indicou" A audácia dessa Mulher foi minha professora, Marina Carvalho, aquela mesma autora de Simplesmente Ana, lançamento de abril da Novo Conceito. Vocês agora conhecem a Marina como autora, mas há alguns anos já a vejo como a melhor professora de LP e Literatura que já tive. Apesar de torcer o nariz inicialmente para as obras "indicadas", no fim não deixo de reconhecer o motivo pelo qual elas foram solicitadas. Marina faz os clássicos soarem divertidos - mesmo quando não são - e muita gente já adquiriu o hábito da leitura após assistir a algumas aulas dela.
A audácia dessa mulher não é nem clássico nem tão reconhecido quanto deveria ser, apesar da autora internacionalmente conhecida e várias vezes premiada. E se por esses mesmos motivos a Marina queria que o lêssemos, certamente era bom e ao mesmo tempo tinha uma importância literária implícita.
O enredo praticamente divide-se em dois, e duas mulheres fortes e com suas próprias audácias comandam separadamente as duas partes. De um lado há Bia, residente do Rio nos dias atuais e um espírito viajante, dividida entre dois homens. Do outro, há Lina, que mora na mesma cidade, mas há um século atrás, e enfrenta seus próprios problemas familiares e dúvidas pessoais. Ambas encontram-se através de um livro de receitas que sobreviveu às provações do tempo, e que subitamente torna-se muito especial para Bia... Assim como Lina.
E foi desse jeito, entre referências à Dom Casmurro de Machado de Assis e choques quase surreais entre a modernidade do Rio no século XXI e a opulência luxuosa do XIX, que me encantei pela narrativa nada menos que envolvente de Ana Maria Machado! Por vezes a própria autora tecia seus comentários ao longo do desenrolar do livro, o que conferia um tom de ironia e crítica reservada, e ao contrário do que pensei, A Audácia dessa Mulher não é a mera releitura de um clássico familiar! Ana Maria conseguiu dar roupagem nova à saga de Bento e Capitu, e através de suas inovações no gênero narrativo, me ganhou e a meu respeito!
Viram? Leituras obrigatórias podem não ser sempre prazerosas, mas há exceções! Principalmente se o livro é apresentado ao aluno com empatia e sedutoramente. Ponto para a Marina! De novo! Rs...
E vocês devem estar se perguntando: se você só teve elogios a despejar sobre a obra, então porque não deu também cinco estrelinhas? Fácil! A Bia! Rsrs...
