Graciela Mayrink - Até Eu Te Encontrar

Título: Até Eu Te Encontrar
Autor(a): Graciela Mayrink
Editora: Novo Conceito
Gênero: Romance
Nº de Páginas: 384
Ano: 2013
Avaliação: 
O quanto uma mudança de cidade pode afetar uma vida? Você acredita em alma gêmea? Como você se sentiria se não gostasse do grande amor da sua vida? É o que Flávia vai descobrir ao deixar Lavras, onde mora com os tios desde o acidente que matou seus pais, quando era criança. Aos dezoito anos, ela decide estudar Agronomia na Universidade Federal de Viçosa, trocando o sul de Minas pela Zona da Mata do mesmo Estado na esperança de uma "mudança de ares". Em sua nova vida, ela conhece Sônia, amiga de infância de sua mãe e agora sua vizinha, que lhe conta a história de sua família materna, até então desconhecida para Flávia. Embora o passado não seja sua maior preocupação, Flávia reluta em aceitar seu destino e ainda precisa superar uma paixão não correspondida pelo seu melhor amigo. Para se ver livre dessa rejeição, ela tenta atrair sua alma gêmea para Viçosa e descobre que o grande amor de sua vida é uma pessoa que ela não suporta.

Há alguns anos a coisa não era bem assim, mas atualmente qualquer livro nacional em que as editoras resolvem investir e colocar no mercado é um prato cheio para leitores famintos por mais histórias conterrâneas. Dentre eles estou eu, que antes enchia a boca para falar que autor brasileiro não prestava (não me perguntam o porquê! Eu mesmo culpo a "americanização") e agora já não consigo passar muito tempo sem ler um livro com personagens lusófonos e características puramente tupiniquins. E graças ao Skoob fui apresentado a Até Eu Te Encontrar, da carioca Graciela Mayrink, que, apesar da chamativa capa, não teria me chamado a atenção, mas o fez pela narrativa ser ambientada em Viçosa, uma cidade universitária a quarenta minutos de distância da minha, onde planejo estudar assim que terminar o colegial e também um lugar ao qual estou já cansado de ir. Rs.
O livro gira em torno de Flávia, uma garota de Lavras que acaba de ingressar na UFV (Universidade Federal de Viçosa), e está animada com a perspectiva de toda uma nova vida longe dos tios e dos habituais rostos, mas ao mesmo tempo receosa em não se adaptar, assim como qualquer um de nós ficaria ao tomar a decisão de morar fora de casa. Com relação a se sentir bem-vinda Flávia não precisa se preocupar, pois prontamente faz novos amigos, tais como Felipe e Gustavo, que a apresentam à cidade, suas melhores festas e à vida universitária em si. Mas a coisa mais importante que Flávia aprenderá em Viçosa está longe de ser relacionada a seu curso de Agronomia... Como que por obra do destino, ela conhece Sônia, dona de uma loja de produtos místicos que era amiga de sua falecida mãe há anos, e que a ensina sobre o segredo que o lado materno de sua família guarda: Flávia é descendente de uma longa linhagem de bruxas, e por ser ruiva, é dona de um grande poder. Isso tudo parece ser fascinante, mas se torna uma verdadeira dor de cabeça quando o amor entra na jogada, e Flávia descobre que sua alma-gêmea é quem ela menos esperava.
As expectativas para um livro que se passa tão pertinho de você, com inclusive algumas cenas em sua cidade (Ponte Nova, para os desavisados), são sempre catastroficamente altas, mesmo com a premissa gritando "clichê" e essa coisa de alma-gêmea ser enjoativa de tão ilusória. Sendo curto e grosso, eu li Até Eu Te Encontrar desejando chegar ao fim desesperadamente, e não por motivos de estar curtindo o enredo... Nunca menosprezo o trabalho de um autor, tanto que achei a pesquisa feita pela Graciela sobre o tema principal da obra impressionante, mas o que me ganha nos livros, sendo elas "clichês" ou não, são os personagens, e Flávia, Felipe, Gustavo, Luigi, Sônia, Lauren, Carla e companhia são todos fracamente construídos e completamente vazios!
Metade do que eles dizem é irrelevante, o que pouparia um grande número imenso de páginas do livro. Diálogos de amigos em bares, onde só se conversa abobrinha, são realmente necessários? Me incomodei especialmente com isto, porque 70% da narrativa se passa ou no Leão, ou no Lenha, ou no Galpão, três bares/ restaurantes/ casas de show ou "whatever" que o povo de Viçosa adora ir, e que os personagens de Até Eu Te Encontrar são "obcecados". Faltou substância, um algo a mais que me fizesse torcer pelo casal principal, não contra ele, apesar da vilã me irritar tanto quanto os mocinhos! Se alguma coisa dá errado para ela, Carla prontamente liga para a mãe e chora para que algo seja feito a respeito. Onde está a força e a auto-suficiência!? Outro problema do livro é a ambientação em si. É como se, na grande maioria das vezes, a Graciela se perdesse nas cenas e esquecesse de descrever como são os arredores, tanto que maiores detalhes da UFV só são revelados no meio da trama! Não foi um problema para mim, afinal, são espaços por onde já estou cansado de andar, ainda mais quando os personagens visitam minha própria cidade, mas e quanto aos outros leitores? Como eles ficam?
E por fim, fico triste ao afirmar que Até Eu Te Encontrar foi um livro que não me agradou nem no começo, nem no meio ou no fim (principalmente no fim), e não acrescentou absolutamente nada à minha jornada literária. Tudo bem, grande parte do que leio também não acrescenta, mas eu ao menos sinto prazer com as outras leituras. Mas também fico feliz pelo Brasil estar conhecendo Viçosa (e Ponte Nova, rs) através de um livro acessível à grande maioria dos jovens. Eu posso não ter me conectado com ele, mas isso não quer dizer que outros não se sentirão realizados com o livro. A verdade é que não me arrependo de tê-lo lido, afinal a Graciela escreve impecavelmente, mesmo com os deslizes de um romance de estreia, e a ela só desejo sucesso. Quem sabe eu até venha a gostar mais de seu próximo romance? E agradeço a quem leu esta resenha até aqui! Sei que ficou enoooooorme... Rsrs.